O que ouvimos no Diel Trends e o que o mercado já sabe sobre manutenção
Na 4ª edição do Diel Trends, o evento de inovação para facilities promovido pela Diel, tive a oportunidade de participar do Painel Interativo de Manutenção 360º. Durante o painel, os participantes puderam votar em tempo real nas principais dores e tendências da área de manutenção, e as respostas refletiram muito do que já vivemos na prática.
Uma das mais unânimes foi a falta de mão de obra qualificada, que continua sendo um dos maiores desafios do setor.

Mão de obra qualificada: o gargalo da operação
Encontrar profissionais com o conhecimento técnico adequado, visão sistêmica e postura de atendimento é um desafio crescente. Como apontado pelos participantes, e refletido pela realidade de muitas empresas, a escassez de profissionais qualificados é um reflexo direto da dificuldade na valorização da área, muitas vezes vista como despesa e pelo pouco apelo com os jovens devido a necessidade de atuação campo.
A falta de qualificação tem se tornado um problema crítico no setor de manutenção predial, facilities e Utilities, muitas vezes necessitamos encontrar pessoas de outras áreas ou jovens iniciantes em funções de primeiro emprego o perfil técnico ou engajado para a nossa área e apoiar na qualificação. Esse processo nos exige um olhar atento e crítico para poder embarcar e qualificar profissionais.
Liderança em manutenção: a transição que precisa ser planejada
Outro ponto debatido foi sobre a formação de novos líderes. O painel destacou a dificuldade de preparar líderes técnicos dentro das empresas, e essa é uma realidade que vejo em nossa operação.
Ser líder exige habilidades além da execução técnica: planejamento, gestão de pessoas, delegação e uma visão estratégica. A transição do “bom executor” para o “líder que resolve” não acontece sem um plano estruturado. Como mencionei durante o painel:

Essa mudança precisa ser intencional, com autonomia gradual e um ambiente propício para o desenvolvimento da liderança. É crucial oferecer exemplos práticos, autonomia e feedback constante para garantir que nossos líderes estejam prontos para sustentar a evolução da área.
Os profissionais e o líder de manutenção precisam saber prever falhas e tomar decisões rápidas, o que exige um nível de preparação e experiência que muitas vezes escapa aos currículos convencionais.
Manutenção preditiva: o caminho para a redução de custos
Quando perguntados sobre o principal obstáculo para implementar a manutenção preditiva, a maioria dos participantes respondeu: orçamento e priorização da liderança.
Mesmo com a tecnologia acessível, sensores mais baratos e sistemas mais intuitivos, a manutenção ainda é vista, por muitos, como um custo, e não como um investimento estratégico.
No entanto, a manutenção preditiva tem mostrado, segundo o World Economic Forum, uma redução de até 30% nos custos operacionais. Ignorar isso pode significar mais falhas, mais paradas e mais custos no futuro.
No painel, reforçamos que tecnicamente muitas vezes a liderança tem os dados técnicos porém relata a dificuldade de aprovação para essa mudança de mentalidade, como mencionamos durante o evento:
“É preciso saber o que está fazendo, entender o impacto disso no cliente e agir rapidamente. Isso não se aprende em um curso só.”
Precisamos de um olhar mais estratégico sobre o investimento em manutenção, entender os impactos no cliente e como revertemos essa ação em ganho, seja ele operacional, financeiro ou de qualidade.
A transição para a transformação digital na manutenção
A maior parte dos participantes do painel se encaixou em uma realidade onde a digitalização da manutenção ainda está em curso. Muitos de nós ainda usamos planilhas e a integração real entre ferramentas e dados acessíveis não acontece de maneira plena.
O futuro apontado no evento é o uso de inteligência artificial, que será uma grande tendência, principalmente para prever falhas e recomendar ações de forma autônoma. No entanto, como comentei no painel: “Sem uma base de dados limpa, sensores adequados e pessoas preparadas para interpretar esses dados, a IA será apenas mais um recurso subutilizado.”
Fazer a transição de forma estruturada e com base sólida, ajuda a todos a pavimentar o caminho e entendimento dos dados apresentados. Ir a campo testar e validar o uso da IA vai nos trazendo cada dia mais confiança no projeto e em poder orientar os técnicos mesmo estando a distância.
Tecnologia e Mão de Obra: Aliadas na Eficiência da Manutenção
Conforme mencionado acima um dos maiores desafios do setor é a escassez de mão de obra qualificada e além de treinar o time base temos um outro ótimo caminho que o apoio da tecnologia, se mostrado uma ferramenta essencial para complementar a deficiência de profissionais qualificados, proporcionando um alívio crucial na gestão de facilities.
Ao integrar sistemas de monitoramento inteligente, automação e manutenção preditiva, é possível otimizar os processos e garantir que, mesmo com alguma limitação de mão de obra a tecnologia faz o complemento para que a operação se mantenha eficiente.
Ferramentas como sensores em tempo real, diagnósticos automáticos e plataformas de gestão digital oferecem às equipes a possibilidade de agir de forma proativa, antecipando falhas, dando dicas, encurtando o trabalho de diagnóstico e evitando problemas antes que se tornem críticos.
A tecnologia, portanto, não substitui o papel fundamental dos profissionais, mas potencializa suas capacidades, transformando a gestão de facilities em um processo mais inteligente e ágil, com resultados superiores na operação.
Manutenção: o alicerce que sustenta a operação
A manutenção eficiente não se resume a reparar falhas rapidamente. Equipe ágeis para solucionar problemas são úteis, porem usar toda essa inteligência e tecnologia para poder ler e identificar pequenas mudanças de comportamento e avisos que o sistema nos apresenta e solucionar antecipando o problema, isso sim, é ótimo.
Usando os processos, tecnologia e inteligência atualmente conseguimos diagnosticar pequenas falhas que não param equipamentos, atuar sem haver um chamado do cliente interno ou externo e sim, garantir a continuidade da operação e a experiência do consumidor.
Como destaquei no painel, “Manutenção bem feita não aparece, mas é ela quem mantém tudo funcionando.”
Para manter a operação eficiente e a experiência do cliente impecável, devemos garantir que nossos processos estejam bem desenhados, a equipe bem treinada e a tecnologia sendo utilizada para prever e prevenir problemas, não apenas reagir a eles.
Com os desafios mapeados e as soluções em prática, seguimos apostando em três pilares essenciais para a manutenção do futuro:
- Equipe preparada
- Processos bem desenhados
- Tecnologia a serviço da previsibilidade
Porque, no final, a manutenção eficiente não é aquela que repara rápido, mas sim a que previne a falha antes que ela aconteça.
Quem escreveu:

Fabio Magalhães é engenheiro elétrico de formação, com mais de 18 anos de experiência na área de manutenção, facilities e utilities, hoje é Gerente Nacional de uma das maiores redes de cinema do mundo. Responsável pela gestão da manutenção e infraestrutura das unidades no Brasil, assegura a operacionalidade, eficiência e qualidade dos cinemas, proporcionando uma experiência excepcional ao público.